segunda-feira, 26 de março de 2018

Um passeio pela Olinda de Galeguinho – os monumentos por trás dos Monumentos.


Como todo bom paraibano ex-bairrista – que hoje não está nem aí para esses discursos patrioteiros e por aí vai –, aprendi que em relação a Pernambuco vale uma paráfrase do mesmo que Sérgio Buarque de Holanda ironizou espirituosamente para a distinção entre espanhóis e lusitanos: tire tudo que tem de grandioso num pernambucano e sobrará um paraibano rsrsrsr, caro e irritado leitor tabajara rsrsrs. E viva o período nassoviano, meus queridos amigos do Grande Irmão do Sul rsrsrs – haja veneno escorrendo no começo da historieta rsrs.
                Por essas e por outras é que terminei meu Curso de Graduação em História na UFPB sem ter ido a Olinda (apenas a uns cento e poucos quilômetros de nossa querida Filipeia), um pecado venial com altas doses de mortal e que exige muitos atos de contrição, penitências e castigos celestiais. Só o fiz em 1994, a instâncias de Mirza, Edson Joaquim e Claudinha Filippi, que tinham vindo de carro (um Gol cinza escritório de Edson) numa expedição de Campinas a João Pessoa. Para mim, na minha cachola estreita e inculta, bastavam nossas praias, nosso Centro e estavam reunidas todas as maravilhas do cosmo. Ainda bem que morei um tempo fora de nossa querida Capitania, sublime torrão do meu Brasil.
                A propósito, a tal viagem englobou quarenta dias, dez mil quilômetros, umas sei-lá-quantas Igrejas, Fortes e Casas velhas, além de alguma cerveja e outros ingredientes para arrefecer o calor e atenuar a fome. Para fazer o roteiro, projetamos um mapa do século XVII num mapa rodoviário atual e nos pusemos a tentar descobrir o que eram em dias atuais aquelas velhas cidades e vilas do seiscentos. Passamos por lugares como Vitória, Caravelas, Porto Seguro, São Cristóvão, Penedo e outros, e vivemos aventuras, algumas das quais ocasionarão futuras postagens nessas Diatomáceas. A tal da Conceição foi um enigma que só descobrimos na Vila Velha de Nossa Senhora da Conceição Itamaracá, de onde se podia ver ao longe Igarassu e a antiga fronteira das velhas Capitanias de Itamaracá e Pernambuco.
                Então, num final de manhã de Janeiro de 1994, nossa expedição chegou à bela e radiante Marim dos Caetés, bem em frente ao Convento do Carmo.
Bem em frente ao Carmo, lá estavam os meninos nos apresentando
sua cidade e defendendo seu pão de cada dia. 

                Num segundo, um barulhento e insistente magote de garotos cercou o carro e se prontificou a apresentar as grandezas da terra. Se o burguesinho pessoense já estava com certa dose de mal humor ante os desagravos do Brasil e glórias de Pernambuco, a bile ferveu e a vontade do tapado que fui era de tirar o time o quanto antes. Mas, passado o primeiro momento, acabamos contratando um jovem conhecido por Galeguinho e tocamos em frente.
Galeguinho não demorou a mandar brasa em torno de datas, nomes de personalidades, a tal casa de Maurício de Nassau (construída uns 200 anos depois da morte do Conde alemão), a “Igreja mais velha do cosmo...” e outras glórias do passado. Num dado momento, já fartos de datas solenes, atos heroicos e celebridades, e sacando a inteligência do garoto, pedimos para que ele as esquecesse e nos falasse de SUA cidade: como por encanto, uma outra Olinda apareceu por trás da fachada, bela e sofrida. Fomos à casa do Senhor Bajado – um grande artista plástico local – e ele nos falou com a sapiência dos idosos acerca das dificuldades da vida. Depois, Galeguinho não deixou de nos mostrar os monumentos sem relacionar suas histórias (passado) às suas histórias (presente), fazendo intuitivamente o que Marc Bloch nos sugeriu fazer – dialogar no presente com o passado – mas que se transformou numa simples frase feita, que muitos usam e abusam nas provas, mas dificilmente compreendem. Galeguinho mostrou um senso histórico que às vezes faz falta a muito historiador de nomeada e pistolão. 
Rodando pelas pontes recifenses e conhecendo o lugar e
suas histórias pela ótica de Galeguinho
Rodamos ao longo da tarde e terminamos batendo pneus pelas pontes de Recife, enquanto Galeguinho nos falava de histórias bem menos edificantes e monumentais como exploração sexual de crianças, tráfico de drogas e coisas que às vezes ficam veladas pela fachada monumental de nossas belas e pitorescas cidades. Aquele cenário se tornou ainda mais grandioso que antes, porque os belos templos, o casario, passou a ser visto a partir do tempo presente e da gente presente, essa sim, o verdadeiro e maior patrimônio.

Uma aventura inusitada nos esperava no belíssimo Mosteiro. 
Um momento singular foi quando entramos no Mosteiro de São Bento, perto do final da tarde. Se a essa altura eu já tinha me convertido num olindense da gema e pernambucano de carteirinha, aí a coisa ganhou tons ainda mais empolgantes. A beleza do Mosteiro nos magnetizou e tentamos ficar em silêncio contemplativo – confesso que um dos maiores patrimônios nesses lugares é poder ouvir o silêncio, quando os visitantes param de grasnar –, enquanto os turistas batiam fotos, os guias recitavam datas e o burburinho dominava o lugar. Por volta das 17 horas, o Monge de plantão – cujo nome omitiremos aqui por motivos que se tornarão claros adiante – começou a cerrar as portas e nós avisamos que ainda estávamos lá. Ele disse que ficássemos tranquilos, porque tinha visto nossa atitude e nos deixaria apreciar o Mosteiro por mais um tempo, enquanto acabava de fechar as portas.
Ato contínuo, o Monge chegou perto de nós e disse:
– Vou lhes dar um presente. Vocês não podem levar pra casa, mas podem ver.
O monge desabafou as querelas internas antes nossos
ouvidos incrédulos. 
Aí a coisa ganhou uma dimensão quase onírica. Ele nos levou ao Claustro, mostrou a estonteante Sacristia, o Coro e conversou bastante. Ao final, achamos que ele precisava conversar/desabafar com alguém de fora da Ordem. Ele nos narrou – sem entrar em detalhes escabrosos – uma série de querelas internas ao Mosteiro e à Ordem que nos fez lembrar das tramoias de “O Nome de Rosa”, do grande Umberto Eco. A história tinha direito a doses de espionagem, puxadas de tapete e coisas que deixariam um Departamento universitário parecendo um jardim de infância rsrsrs. Jamais falamos muito sobre isso, porque a história era muito séria e pessoal.
O Pernambuco das delícias Nassovianas...   ... tinha sua contraface nos horrores da escravidão.

Ao final do passeio mágico, resolvemos levar Galeguinho no seu bairro, bem distante das suntuosas Igrejas e do vetusto casario. Era um bairro popular, de população trabalhadora, que estava bem longe dos próceres e heróis da história local. Lá não era lugar de Duarte Coelho, Maurício de Nassau nem de Bernardo Vieira de Mello, mas dos descendentes daqueles que construíram a riqueza da açucarocracia local.
Uma suposta imagem do heroi
          fundador Duarte Coelho.
... e uma outra história da cidade.
No ano seguinte, com outro grupo, encontramos Galeguinho e tornamos a bater um bom papo com o inteligentíssimo garoto. Novas coisas belas para ver, desde os maravilhosos bricellets (biscoitinhos artesanais) das freiras até outras histórias dessa ativa relação entre presente e passado, como tão bem Galeguinho conseguia fazer. Encontramo-lo mais umas duas vezes, da última vez bem triste e falando das dificuldades da vida. Depois, não o vimos mais nas idas a Olinda. Anos depois, conversando com outro guia local, perguntamos por Galeguinho: ele parecia saber de quem se tratava e nos informou que o rapaz havia morrido em situação ligada a drogas ou coisa desse teor. Não sabemos se a notícia procedia, mas ficamos muito tristes e sabemos que muitas histórias dessas acontecem diariamente em nossas cidades, que reúnem a pujança e a modernidade, ao lado da pobreza que avilta tantas vidas.
Em 1982 a bela Olinda foi elevada pela Unesco, mais que merecidamente, à condição de Patrimônio Histórico da Humanidade. Um já idoso Gilberto Freyre, num depoimento televisivo, falava de sua satisfação de ver aquele reconhecimento. Gilberto Freyre, um de nossos mais importantes intelectuais, com uma obra monumental que merece ser lida e que é sempre fonte de muito aprendizado. Gilberto Freyre, uma espécie de “mitólogo” da açucarocracia pernambucana e, por que não, de um ethos – que se estar a perder – das classes dominantes brasileiras, com seu engenhoso “equilíbrio de antagonismos” que o mundo do açúcar teria ajudado a amolentar e a docilizar. Pena que o doce mel dos tachos parece que não valeu para Galeguinho.
Mas o fato é que continuamos a ministrar aula nos anos que se seguiram, aqui e ali, e não conseguimos nos furtar inteiramente da visão monumental do patrimônio. Ver Ouro Preto, ver Olinda, ver Cachoeira e outros tesouros às vezes nos faz esquecer dos preços pagos por quem os construiu e da outra face da moeda do fausto – ou o falso fausto –, como bem nos lembrou Laura de Mello e Souza, num brilhante trabalho sobre a pobreza nas Minas Gerais setecentistas.
As ladeiras da velha e bela Marim...
e as ladeiras da Olinda de Galeguinho e seus colegas. 
Imperceptivelmente, nos slides projetados em aulas, essa visão monumental foi se acomodando como camada geológica-mental diante da contemplação das fachadas e altares barrocos. Ao ouvirmos o grande Alceu Valença entoar dolentemente que “Olinda tem a paz dos Mosteiros da Índia” ou cantar suas “ruas desertas, velhas paredes” ou suas “ladeiras de frevo e preguiça da velha Marim”, nos deixamos levar pelo sopro do vento e o balanço das ondas daquele verde mar que a nós e a todos encanta. 
Até que um dia, um susto: a TV Cultura apresentava uma série chamada Expresso Brasil, na qual artistas locais apresentavam seus Estados, tais como “A Paraíba de Chico César” (que mostrou lugares pobres da Capital das Acácias, para desgosto de nossas operosas classes dominantes locais), “O Ceará de Falcão” e outros. No caso de Pernambuco, o convidado foi o grande Antônio Nóbrega. Ao falar de Olinda, em frente a um belo casario, ele falou da pobreza que muitas vezes se escondia por baixo da fachada monumental, para além dos discursos louvaminheiros e patrioteiros bem típicos das elites locais e dos discursos pitorescos dos guias turísticos. O artista lembrava ao historiador que não esquecesse da história e que não esquecesse daqueles que a fazem mas não costumam a frequentar as páginas dos livros de história, mas sim as das tão tristes e absurdas crônicas policiais.
Assim, chegamos ao final desse passeio pela memória em um dia de passeio pela história. E toda história só valerá de alguma coisa e todo o patrimônio só valerá para alguma coisa se entendermos qual era o maior patrimônio dessa história: Galeguinho e aquela meninada olindense que batalha pela vida e a quem essa postagem é dedicada.    

12 comentários:

  1. Lindo texto professor Ângelo.

    Na vida, em meus muitos passeios por Olinda, também já conheci meninos como o citado galeguinho.

    Na próxima vez que lá estiver, terei olhos mais atentos para com eles.

    Este texto foi para a minha pessoa um exercício para "o pensar melhor" sobre a nossa realidade, que o senhor tanto nos recomenda.

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    1. Prezada ou prezado Unknow, boa noite.

      Há bastante tempo curto bater perna e conhecer o Patrimônio Cultural e demorou bastante tempo para "descolonizar" minha visão acerca do mesmo.
      Às vezes, certas visitas a bens patrimoniais, em vez de alargarem nossa visão, acentuam estereótipos, reforçam preconceitos.
      Muito tempo atrás, uma pessoa conhecida, após várias recomendações minhas para visitar Salvador, me falou tinha gostado muito da cidade, exceto pelo fato de que "estava cheia de baianos". Dispensável acrescentar algo...


      Abração.

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  2. Saudações anpuhanas, Ângelo.
    É muito legal, divertido e marcante esses passeios que fazemos com amigos e que por consequência acabamos conhecendo pessoas, aprendendo ideias novas...
    A última vez que fizemos isso, fomos eu, Marcelo Herculano e seu primo (que não estou conseguindo lembrar o nome dele) que estava aqui de passagem e nosso regente filosófico Damião. Não havíamos preparado nenhum roteiro específico, mas nos encontramos no Shopping Tambiá e de lá subimos para a Igreja do Carmo no final da tarde. Passamos pela Casa da Pólvora e depois descemos em direção ao Hotel Globo e voltamos até chegarmos a Praça Aristides Lobos, Ponto dos Cem Réis, Lagoa e Mercado Central. Durante nossa passagem por esses lugares, tínhamos a oportunidade de falar para o primo de Marcelo o nosso passado e a maneira como tudo aquilo ao nosso redor era vivenciado por um cada de nós e por outras pessoas que conhecemos.
    A grande diacronia do nosso dia foi quando chegamos na praça Aristides Lobo, logradouro que normalmente passamos por ali de ônibus da Integração, olhamos para cima e notamos que os prédios que figuram silenciosos nas paradas de ônibus guardam marcas que nunca havíamos vistos, como por exemplo um deles que tem escrito o nome "Edifício Filipeia". Esses edifícios que fomos educados inconscientemente a olharmos para eles notando apenas as lojas e os estabelecimentos comerciais que funcionam ali no térreo, na verdade, logo acima, haviam informações que nunca havíamos reparado.
    E no seu texto, quando você falou sobre o monge que acolheu vocês e contou algumas informações extras, só confirmou uma impressão que eu tenho quando participo de estudos do meio e atividades semelhantes. As vezes as pessoas que trabalham em instituições, órgaos, repartições públicas ou que acolhem visitantes em lugares que costumam ser visitados, logo sacam a diferença de quem realmente tem o interesse em aproveitar a experiência de "vivenciar" o lugar ou não e acabam não resistindo... dialogam, porque sentem faltam de pessoas que fundamentalmente tragam dentro de si a curiosidade, a abertura para ouvir e compartilhar ideias. Essas interações e oportunidades são daqueles que só acontecem uma vez na vida.

    Abraços,
    Lucas.

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    1. Saudações anpuhanas, Lucas.

      Pois é, essas andanças são uma verdadeira recarga nas nossas baterias mentais. Às vezes valem mais que certas "homilias burocráticas" que temos de digerir vida afora com direito a uma baita azia e um sofrido empazinamento.
      Num trecho da Apologia, Marc Bloch nos lembra de uma visita que fez com o historiador Henri Pirenne a uma cidade e o grande historiador belga se interessou em ver um prédio recém-construído, frisando a Bloch que o historiador deveria estar atento ao novo, ao que é vivo.
      Estar atento ao que é vivo (e aos viventes) é condição para um bom historiador, senão a burocracia espalha gelo e tédio na vida.

      Abração.

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  3. Grande Ângelo,
    Excelente narrativa! Percebi que você e o seu grupo de amigos fizeram algo muito caro a diversos historiadores: vocês deixaram o Galeguinho falar. As vezes nos perdemos em tramóias teóricas, suportes metodológicos de operações historiográficas e o escambau a quatro, que esquecemos de ouvir de fato as nossas fontes, ou os nossos "galeguinhos", e sobre o que elas nos tem a falar.
    Que bom que a vida real existe para nos reorientar, não só como historiadores, mas como gente também.
    Abraços!

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    1. Grande Giuseppe, boas noites.


      Alguém bem abalizado como nosso velho Professor Bloch lembrou que "O espetáculo da busca, com seus sucessos e revezes, raramente entedia. É o tudo pronto que espalha o gelo e o tédio", e depois que "o hábito da pesquisa não é de modo algum desfavorável, com efeito, a uma aceitação bem tranquila da aposta com o destino". Como, então, refugiar-se na chatice e na certezice? Simplesmente, não vale à pena.
      Quando eu era um recém-formado, opinioso, cheio de certezas teorias, conheci um velhinho que liderava a Congada de São Benedito de Serra Negra (SP). O senhorzinho falava em "Carlos Magro" e os Doze Pares de França. Lá foi o idiota aqui falar em Carlos Magno e corrigir as informações prestadas por ele. Só consegui espalhar gelo e tédio, vade retro chatice!!!


      Abração.

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  4. Bem observado.
    O grande lance é a troca de ideias, de pontos de vista, experiências, conhecimento.
    Saber ouvir e conversar antes de discursar.
    A pessoas reconhecem o tratamento respeitoso e retribuem.
    Muitas portas foram abertas assim.
    As Rocamboles são provas disso.

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  5. Honorável Dan, boas noites.


    Pois é, tivemos muitas e boas aventuras nas Rocamboles-Kukamongas, desbravando a selvatiqueza dos sertões paulistas: a aprazível Cidade Edson e sua rede de transmissão elétrica, Alumínio e a Naludey's Noivas, os Vinhos Palmeiras, em São Roque, o carro atolado em busca do Voturuna, o carro pifado nas redondezas de um desmanche próximo ao Sítio do Padre Inácio, enfim, muita aventura misturada com cerveja e carneiro no arado, porco recheado dos Vargas ou coisa do gênero. E as noivas da Praça de Atibaia numa tarde de alta rotatividade casamentícia e direito a doces em profusão?
    Acho que uma figura sintetiza isso, o Seu Carrapicho, lá do Sítio Santo Antônio, em São Roque. Estávamos bisbilhotando o lugar quando chegou o velhinho brabo após um pifão carnavalesco (isso foi em 94?). Ao nos inquirir sobre quem tinha autorizado a visita e dizermos que tinha sido o genro dele, o véio "pegou ar" e disse que quem mandava no pedaço era ele.
    Após certa diplomacia, Seu Carrapicho virou nosso amigo, nos mostrou tudo que havia e ainda tomamos um cafezinho. Que beleza!!! Depois, ainda nos contou os casos da velha parteira que atuou naqueles sertões quando ele ainda era menino... e das assombrações do lugar... inesquecível. Acho que um dia vou postar tudo isso.

    Abração e vamos bater perna por aí ou por aqui. É só combinar.

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  6. Estimado professor,

    Excelente texto! Excelente blog!
    Gostaria de ler muitos outros textos como esse futuramente neste blog.

    Abraço!

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  7. Grande Helton, boa tarde.


    Agradeço pela gentileza. Até que tenho algum assunto pra escrevinhar por aqui, mas arrumar um tempinho de ócio e algum bom humor diante do quadro que se apresenta ante nossas vistas tem sido coisa um tanto rara rsrsrs.
    Vamos continuar na tocada de bom bate papo.


    Abração.

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  8. Dileto Mestre,

    Como não ficar deslumbrado com a beleza dos textos deste blog? Ainda sob o êxtase do anterior, lá vem mais um e PAM!! Mais uma vez nos arrebata. Muitos Galeguinhos estiveram/estão aí, mundo a fora, por trás dos grandes Monumentos de nossas cidades, com muitas histórias de vida, para nos ensinar. A mágica da experiência que a narrativa exala, nos leva a pensar a importância da relação do historiador com aqueles que de fato são os verdadeiros monumentos da história e que jazem no esquecimento. A beleza e o drama da experiência relatadas no supracitado texto, que o senhor compartilha conosco, faz-me lembrar de um trecho de um texto do educador espanhol Jorge Larrosa Bondía, no qual ele diz: "A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece [...] Nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada vez mais rara." Fico muito feliz pelas experiências reais que aqui são compartilhadas. São de muita relevância para que possamos nos tornar mais humanos, estudantes e historiadores mais sensíveis à realidade do mundo ao nosso entorno. Para que possamos sair da chatice da vida e começar a viver os momentos com profundidade. Parabéns, professor e muito obrigado por compartilhar conosco suas belas experiências de vida.

    Abraço Fraterno!

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  9. Caro Weverton, bom dia.

    Fico muito contente que você tenha gostado.
    Às vezes penso que, em História, a gente só vai descobrindo nossa humanidade, quando desnaturaliza a nossa desumanidade. Penso assim: desde pequeno, a família, a escola, as relações vicinais, de classe, de religião, etc, vão plasmando em nós visões de mundo, que vão se tornando naturalizadas, ficam lá como se lá sempre estivessem.
    Certamente, muito disso nos ensina coisas boas: algumas lições de generosidade, amor, solidariedade, tantos valores importantes.
    Por outro lado, certos ditos e certas zonas de silêncio encobrem um passado espesso, pesado, do qual muitas vezes nós não temos clara percepção.
    Acho que não se faz boa história, se, à medida em que a gente a faz, não se refaz. Galeguinho, para mim, no início, era um pirralho insistente (e bota insistente nisso rsrsrs) que queria "atrapalhar" a "minha" fruição estética do patrimônio. À medida em que a nossa comunicação se estabeleceu e que fomos percebendo o valioso "acervo" dele, é que a coisa foi ganhando outra - e mais interessante e valiosa - dimensão.
    Eu escrevi uma tese de doutorado chamada "As Ruínas da Tradição" e seu objetivo foi tentar desvelar como essa tradição se impôs de forma tão espessa e pesada, que acabou virando "natureza". Penso que nosso trabalho de historiadores deve se dar numa frente de combate à tradição e esse combate só se pode dar se nós conhecermos minimamente essa tradição. Senão, a coisa vira apenas propaganda do novo, porque, às vezes, continuamos praticando o velho sob novas vestes.
    Descobrir Galeguinho e seus amigos em meio às fachadas e interiores dos Monumentos da bela Olinda foi um grande aprendizado para mim.

    Abração.

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