Exórdio: Em nossa puerícia, aprendemos que em 19 de Abril se comemorava o Dia do Índio. Era muito interessante nos fantasiarmos de curumins apaches do século XIX, enquanto, sem sabermos bem, lá nas brenhas, a nossa avançada civilização exterminava os índios que ainda cometiam a ousadia de viver no mundo contemporâneo. Pouco depois, já mais crescidinhos e em outras paragens, aprendemos que certas elites locais lucravam bastante em criar uma mitologia na qual se diziam descendentes de “princesas indígenas”, como, data vênia, a tal Bartira, cujos ilibados netinhos se esbaldaram em promover a famosa “A milésima segunda noite da avenida Paulista” – tão bem e objetivamente reportada por Joel Silveira, num texto cuja nossa redação recomenda vivamente aos incautos leitores dessas tortuosas linhas –, bem como outras efemérides dignas de nota nos Anais da Nossa História Pátria. Vale dizer que quando eles promovem certas trapalhadas, ousam a chamá-las de “programa de índio”. Fica aqui a indagação de se os índios seriam tão tolos em entrarem nessas engazopadas. Enfim, nesse sutil jogo entre inovação e tradição, lembremos que “as ideias dominantes de uma época sempre foram as ideias da classe dominante" (Marx e Engels).
Dedicado aos que, negando a relatividade da vida, se refugiam no relativismo-totalitarista.
Corria
placidamente o ano da graça de 1991, quando se anunciaram grandes portentos na
metrópole cafeeeira. Após detidas negociações, o então Burgomestre local obtivera
do Suserano dos Suseranos do Planalto Central o comodato, por várias décadas,
de um grande imóvel onde se estabeleceria um vistoso parque público local. O
imóvel, que englobava a sede e os terrenos próximos de uma velha fazenda de
café, há longo tempo alienado de seus antigos proprietários por um órgão
federal e entrevisto de longe pela população do burgo, despertava curiosidade
pelas lendas que corriam em torno de si.
À
época, estávamos como bolsistas iniciantes do projeto de instalação de um
inovador Museu, que prometia estabelecer uma concepção mais arejada da história
local. Além da nobreza da terra, o Museu se propunha a preservar as histórias
das pessoas comuns, ou seja, daqueles supostamente não bafejados pelos “talentos
de nascença”, que, sem dúvida, marcam indelevelmente as faces dos escolhidos
pelo destino para governarem aquela boa terra, como, de resto, todos aqueles
que governam todas as boas terras em todos os tempos e o fazem sempre pelos
seus talentos inatos. Não concordam distintos e escassos leitores?
De
imediato, fomos convocados, uma equipe de quase 15 pessoas, a integrarmos uma
monitoria que atenderia os visitantes ao parque no dia de sua inauguração.
Seria uma festividade inenarrável, com direito a uma parte de cerimônia solene e
fechada para as autoridades – digamos, a “elite ilustrada” local –, e outra
parte com a apresentação dos quatro integrantes de “Os Parlapatões”, o mais
célebre programa telehumorístico da pátria de chuteiras, destinada para o vil povaréu
na entrada do novo parque.
Dias
antes, nos dirigimos para a primeira reunião da equipe, no próprio local do
evento, para obter as primeiras instruções e fazer os devidos levantamentos de
informações visando o atendimento aos visitantes. As coisas pareciam bem
normais até darmos de cara com um de nossos informantes, o antigo zelador, que
atendia pelo angelical nome de Seu Ângelo, e que vociferava cobras e lagartos
contra o que estava em andamento.
Inicialmente,
o querubínico zelador nos informava que havia nascido na antiga casa grande da
vetusta fazenda, que havia sido demolida e reconstruída uns vinte anos antes,
para dar lugar a um pretenso Museu do Café que jamais havia funcionado e que,
por sua vez, dera lugar a uma espécie de repartição informal para
inconfessáveis negócios sob as bênçãos do Instituto Tupiniquim do Café,
recém-extinto por aqueles dias. Ato contínuo, à época, muitas famílias da
nobreza cafeeira local haviam doado móveis para o tal Museu que foi sem nunca
ter sido, mas eles acabaram funcionando para acolher lobistas e políticos de
plantão, que usaram o casarão e seus móveis como rendez-vous para honoráveis negociatas, com direito a dançarinas
noturnas e animadas festividades pelas altas madrugadas, onde abundavam bebidas
espirituosas e colóquios não tão espirituais assim.
Outrossim,
dias antes do Suserano do Planalto consignar a concessão do casarão ao
município, uma decoradora de sua residência particular havia dado uma
passadinha por lá e arrematara a melhor mobília lá existente para uso do Grande
Senhor (que havia acabado de reformar sua espetaculosa mansão), deixando em
troca sofás puídos e bufentos, cadeiras desarranjadas, camas em petição de
miséria, enfim, pouco sobrara do acervo do Museu que fora animada casa de
diversões por duas décadas. Basicamente, a mobília de um quarto e um grande
jogo de mesa e cadeiras, para 24 lugares, feito 20 anos antes para o Museu e
que pretendia imitar uma suposta mesa antiga, talvez do autêntico medievo
brasiliano. Seu Ângelo estava indignado e bradava aos quatro ventos o rol dos
escândalos que vira naqueles 20 e tantos anos, foi um festival que daria profuso
material para o saudoso Petrônio compor um novo mais ousado Satiricon.
Ainda
sob o impacto das trombetas angelicais do velho morador, os assustados monitores
ingressaram no salão principal, onde encontraram uma numerosa equipe de
seguranças, artistas, burocratas, aspones, todos dirigidos por uma pressurosa e
chibante Chefe de Cerimonial, que deu as coordenadas do trabalho. Prontamente,
designou os lugares e funções de cada um e sobre nosso grupo se pronunciou:
–
Aqui estão os nossos historiadores para fazer o entretenimento das autoridades.
!!!???
Entretenimento das autoridades??? Que diacho era aquilo???
Deixamos
o lugar completamente embatucados e confusos. O que nós, os seguranças, os
aspones e “Os Parlapatões” faríamos, enfim? Que comédia era aquela? Como fazer
uma monitoria minimamente decente para ‘entretenimento’ das autoridades? Ora, a
coisa não parecia das melhores.
Decidimos ir ao Museu
Histórico, à Biblioteca Municipal e outros acervos da cidade, a fim de colher
todas as informações possíveis sobre a antiga fazenda, para podermos fazer um
trabalho minimamente digno.
Ao fazermos os levantamentos, não topamos com nada de história no sentido de “herança do
passado distante e supostamente glorioso dos bons tempos do Settecento e
Ottocento, com nhanhãs e nhonhôs abanados e acarinhados pelas suas amorosas
mucamas”, o que havia era o terreno de uma antiga fazenda, cujo casarão havia
sido demolido e substituído por uma suposta casa de fazenda no estilo colonial
norte-americano digna de revistas de moda dos anos 1970 [com direito a cozinha
azulejada com coifa e modernos equipamentos “coloniais”], com um ex-quase-futuro
Museu que havia servido de casa de tolerância noturna político-empresarial, com
móveis deixados da reforma da espetaculosa mansão do Suserano do Planalto, do
qual sobrara muito pouco. Havia uma história, mas toda ela era bem recente e se
resumia a um pitoresco escândalo, que daria um ótimo entretenimento para a
pornochanchada nacional.
Que fazer?
A equipe se dividiu:
uma parte considerava que deveria rasgar o verbo e dizer com todos os pingos em
todos os iii o que se tinha pintado e bordado ali. Outra parte considerava
necessário tentar falar um pouco sobre o processo histórico referente à antiga
fazenda. Diante do impasse e do dia da inauguração chegando, a equipe estava
reunida após polêmico almoço, numa alameda dos jardins do casarão, quando
apareceu inopinadamente o burgomestre local, antigo e respeitado lutador dos
tempos contra a ditadura. Ele foi apresentado aos dublês de
historiadores-entretenedores e, emocionado, perguntou:
– Não é uma beleza, a
nossa história?
Silêncio profundo e consternado,
quebrado por esse desocupado que soltou de supetão:
– Bonito até que é, mas
é pena que tudo é falso.
– Como??? Falso!!!???
[burgomestre assustado e pálido]
– Pois é
[historiador-entretenedor em tom petulante e com peçonha escorrendo pelas
quelíceras escorpiônicas], tudo falsificado durante a ditadura, era um antro de
escândalo e corrupção...
O homem ficou pálido,
meio esverdeado e desnorteado. Deve ter se perguntado intimamente: Como eu vou
dar um presente à cidade e esse tratantezinho vem com uma dessas? Mas, ante
seus anos de experiência e militância e recuperando o élan, saiu-se com esse axioma válido para toda a historiografia
universal:
– Não, não vamos falar
desses tempos infelizes, isso não é construtivo. Melhor passar no Museu
Histórico e trazer uns objetos para cá, criemos história onde ela não existe!!!
Silêncio nervoso e
aumento da tensão na equipe...
Que fazer?
Após longas diatribes
entre a equipe de historiadores-entretenedores, chegamos à seguinte solução de
compromisso:
No salão de entrada,
adornado com a mobília “vencida” da mansão lantejoulante do Suserano,
contaríamos o que acontecera com a casa na ditadura, o horror dos escândalos.
No salão intermediário, com a grande mesa para 24 pessoas, daríamos algumas
informações sobre a antiga fazenda, o que seriam complementadas num dos quartos
dos fundos, no qual estava a única mobília não levada para a Capital Federal.
Fizemos uma limpa no que havia de mais cafona e de pequeno porte, a fim de não
haver tumulto ou material afanado no meio da multidão que visitaria a casa no
dia da inauguração. No cúmulo da cafonalha vinda do Planalto, pontificava um
horroroso tapete sintético de zebra, sobre o qual Elke Maravilha e Falcão bem poderiam
dar um recital dadaísta de poesia parnasiana. Fechamos vários quartos e
preparamos um esquema de circulação. De acordo com o cerimonial, na parte da
manhã haveria uma visitação restrita às autoridades e à tarde, logo após o
meio-dia, o povão entraria após o show dos Parlapatões.
Ainda na véspera do
grande evento, o Suserano dos Suseranos visitou o Burgo e foi recebido com toda
a pompa e circunstância devidas. Na festiva ocasião, o ex-Burgomestre local e
então representante na Câmara dos Comuns, perpetrou um golpe político (coisa
que seu partido aprendeu a fazer desde lá e se aprimorou na prática), anunciando
a ampliação legislativa, por iniciativa sua, do comodato federal para 99 anos,
o que lhe valeu os rasgados elogios de “chupim” e “vira-bosta” por parte do então
mandatário da cultura local, um dos homens de maior confiança do atual
Burgomestre e que foi reproduzido em profusão nas folhas noticiosas (por que
não, facciosas) locais.
Os cabelos do regente por pouco não causaram um grande forfé durante a solenidade. |
Finalmente, o dia 14 de
Julho, o céu amanheceu sereno, com o azul profundo do hino nacional, e chegamos
cedo para entreter às distintas autoridades. Para nossa surpresa inicial o
Cerimonial preparara como entrada uma Missa ecumênica e solene nas escadarias
do casarão, que supostamente relembraria a “Primeira Missa” de fundação da
Cidade, digna de ser pintada por um Victor Meirelles local. Em meio ao absoluto
pastiche (lembremos, só de passagem, que na colônia não tinha esses papos de
ecumenismo não), direito a farta ficção historiográfica, com adulação ao
fundador da Urbs, discursos
grandiloquentes, coisa que extasiou nossas mais delirantes fantasias. A
culminância se deu quando o Coral de uma Igreja local entoou um celestial canto,
dirigido por um jovem maestro com cabelos em forma de corte de pelo de Poodle. Tive essa visagem e perguntei às
pessoas das proximidades: que Poodle
é esse? Foi um corre-corre para as moitas vizinhas, para a risadagem não
estragar a cerimônia.
Enquanto se ouviam ao
longe os acordes das músicas e as piadas dos Parlapatões que divertiam o
populacho, os discursos das autoridades se sucediam. Foi, então, descerrada uma
fita e as autoridades locais ingressaram na casa, na qual os
historiadores-entretenedores já se encontravam para a competente explicação.
Nenhuma autoridade se
interessou muito pelas nossas exposições e a maioria ficou vagando embevecida
pela casa, comentando sobre sua antiguidade, como o passado era belo e coisas
do gênero, ou degustando ao acepipes servidos à fina elite, quando uma distinta
jovem senhora, de vinte e poucos anos, recém-esposa de um ex-mandatário da
cultura local, homem septuagenário que servira à cidade em tempos de antanho
(leia-se, da ditadura), quis porque quis abrir um dos quartos, onde deveriam se
esconder tesouros dignos de Ali Babá e do Vaticano. Instado pela digna senhora
a abrir o tal quarto, disse que não podia e que apenas havia nele objetos sem
maior valor. Isso aguçou a curiosidade da distinta – a essa altura secundada por suas colegas de coluna social –, que exigiu que eu desse um jeito. Solicitei a um segurança a abertura da porta do quarto, no qual estava cuidadosamente guardado o horroroso tapete sintético de zebra, que realmente embeveceu a condessa e suas colegas da alta cultura da alta society local. Encantada, a fidalga me advertiu maviosamente:
– E você queria nos
privar de ver essa antiguidade? Que beleza!!! De quem terá sido?
– Pois não, é do século
XVIII, pertenceu ao fundador da Cidade, que fez um safári na África para descasar após à fundação...
Raríssimo tapete sintético de zebra, caçado em aventuroso safari pelo mui digno fundador da urbs, no epílogo do Settecento. Mais um furo de reportagem das Diatomáceas. |
A notícia causou o
maior frisson, foi um verdadeiro encanto, o tapete transformou-se de imediato na vedete da exposição. Os poucos
que sabiam que aquilo era uma deslavada mentira, se dividiram entre o sorriso
divertido e a fúria pelo vexame cultural perpetrado em torno daquele testemunho
da zebrice humana.
Onze horas da manhã, uma
hora antes do previsto, o Burgomestre havia tomado uns drinks e foi ver o
populacho, tendo se comovido até às lágrimas com o fervor cívico da multidão
entretida pelos Parlapatões. Ante intensa emoção, mandou abrir os portões do
Parque para o povaréu entrar no lugar como uma massa humana que se espalhou
pelas aléias do parque e se dirigiu em grossas colunas para o casarão, sobre o
qual se difundiam lendas de décadas sobre fantasmas de senhores e escravos que
haviam habitado aquelas paredes, sobre antigos cavaleiros medievais que haviam
lutado justas no seu pátio. No reino da cultura histórica, era um vale-tudo e
se alguém dissesse que a própria Cleópatra Filopator passava temporadas de
inverno por lá, seria até bem normal.
Ao ver as massas se
movendo para o casarão, as autoridades esqueceram os acepipes e a zebra
colonial e meteram sebo nas canelas, se evadindo de lá num soluço. Tivemos de
ir às pressas para a porta do casarão, com os seguranças, para impedir uma
verdadeira invasão da multidão, sequiosa por histórias de papas, cavaleiros
andantes, gnomos ou o que mais pudesse haver ali. De megafone na mão, tentamos
negociar a ordem de entrada, organizando as filas e determinando a entrada de
50 em 50 pessoas, para viabilizar o fluxo do público e a monitoria (leia-se,
entretenimento histórico) aos visitantes. Antes de entrar o primeiro grupo, recolhemos
prudentemente o raríssimo tapete de zebra, o qual jamais voltei a ver, para
gáudio de minha retina aterrorizada com tamanha cafonice.
O fluxo de gente era
inacreditável, tivemos de ampliar os grupos de 70 em 70 e de 100 em 100, para
vencer a multidão. O caos era absoluto. Aos falarmos das sacanagens ditatoriais
logo no salão de entrada, o pessoal chegava puto da vida nos salões seguintes,
se queixando que na primeira vez em que iam ver a “história de verdade”, ela
era mentira!!! Ao chegarem ao quarto no qual haviam sido informados que havia um
resto de mobília do natimorto Museu do Café, vociferavam contra a ditadura “que
havia dormido naquela cama”, como se a personificação da própria ditadura fosse
uma criatura vivente de carne e osso, muito embora naquela casa abundasse muita carne
para pouco osso...
Lá pelas três da tarde,
num intervalo para deglutir às pressas um sanduba providencial (que não pudemos
comer na hora devida dado o rompante do Burgomestre), os seguranças se
propuseram a nos substituir na monitoria, porque eles já tinham visto tudo e
sabiam de cor o que dizer. A fome nos aconselhou a aceder àquela generosa
sugestão. Fui para o segundo salão – o da mesa que já tinha virado do Rei Artur
– e sentei com Geraldo e Lorette num recanto para comer o sanduba, quando um
senhorzinho sentou emocionado numa daquelas cadeiras de espaldar alto e
perguntou para todos:
Cadeira de espaldar cujo simulacro serviu ao honorável Marquês e à distinta plebs local. |
– De quem terá sido
essa cadeira?
– Do Marquês de Tria
Fluvius, ilustre capitalista local do século XIX – disparou o chefe dos
seguranças para a sala atônita...
Formou-se uma ansiosa e
gigantesca fila para sentar na tal cadeira do Marquês, para gáudio da audiência...
Lá pelas cinco da
tarde, tentávamos fechar a casa para a multidão que
No vale-tudo da historiografia da multidão, o Protomártir da Independência haveria placidamente desencarnado numa cama como essa. A ditadura dormiu na mesma durante duas décadas. |
Às cinco e meia, ante
protestos gerais, conseguimos fechar o casarão, prometendo que ele abriria tão
logo para a visita popular. Safos pelo gongo e pela ação rápida dos seguranças,
que haviam assumido o comando do delírio histórico que tomara conta das últimas horas
do evento.
Mais tarde, no mais
tradicional bar local, comendo o mais tradicional sanduíche local e bebendo o
mais tradicional chopp local, nos refestelávamos com as histórias surgidas
entre as autoridades e a multidão. Ipso
facto, concluímos que o nosso velho e sagaz Burgomestre tivera razão, a
história acabou sendo criada onde ela não existia, ou, pelo menos, ela não era
exatamente o tesouro das relíquias do passado e consistia mais na relação que
com ele resolvemos estabelecer, a zebra sintética não nos deixa mentir.
Fantástico... É isso.
ResponderExcluirOi Damião,
ResponderExcluirA escrita só consegue reproduzir palidamente o colorido intenso desse dia rsrsrs.
Abraço.
É cada absurdo que nós vemos em nossa curta vida...
ResponderExcluirSó tomando uma sacrossanta cervejinha pra ajudar a descer o bolo alimentar da vida rsrsrs.
ResponderExcluirAbraço.
Incrível. essa leitura me fez ganhar o dia.
ResponderExcluirNão sei o que é mais interessante, o episódio em si ou a sua narrativa.
Esse trecho é impagável: "a essas alturas a multidão e os seguranças literalmente assumiam o poder historiográfico e escreviam a história que desejavam".
fiquei curioso sobre a cadeira do rei Artur e a cama onde morrera Tiradentes!
Abração.
Todo o poder aos sovietes historiográficos!!!
ExcluirDas massas, spaghetti a Carbonara é a minha predileta.
Abraços revolucionários.
Ótimo texto, Ângelo.
ResponderExcluirLegítima noção de que a história é um rastro desviante de acontecimentos no vácuo do tempo. Vácuo este, que por sua vez não é vazio. Logo, "criemos história onde ela 'não existe!!!'".
Olá Derek. Tirando o vácuo da minha cuca, no mais, o mundo está plenamente habitado pelo sopro de Trump (com um inconfundível cheirinho de enxofre).
ExcluirAbração.
A narrativa é tão rica de detalhes, que ,em alguns momentos, achei estar lendo algo muito fantasioso. Mas compreendo que uma grande narrativa só é plenamente rica quando o narrador consegue fantasiá-la nas suas verdades. Parabéns, fofura.
ResponderExcluirOi querida.
ResponderExcluirA história toda é meio maluca. Ou melhor, não teria toda a história uma dimensão meio maluca? Acho que, em muitos casos, não precisa inventar absolutamente nada, a piada já vem pronta rsrsrs. Veja os casos recentes dos pirralhos imbecilóides que atacaram um menino que usava uma camisa da Suíça, dos tapados que agrediram um casal que andava de bicicletas vermelhas e dos idiotas que vociferaram contra a bandeira do Japão na Câmara Federal. Tudo contra o "comunismo vermelhista" (apud Odorico Paraguaçu) e em nome da "liberdade" rsrsrs. No meu caso, e de maneira bem mais gentil, retenho a cara de felicidade do senhorzinho sentado na cadeira do Marquês, que ainda está impregnada em algum lugar do meu encéfalo.
Genial, professor! Que narrativa fantástica. Adorei conhecer a história das histórias que não existiram.
ResponderExcluirOi Carla, tudo bem?
ResponderExcluirPois é, o absurdo é bem mais concreto e palpável do que pensamos. A questão é que, às vezes, queremos ver as coisas bem mais lineares do que efetivamente são. Talvez o problema resida na nossa vista e não nas coisas.
Abraços.
Prezado amigo Ângelo, sua genialidade narrativa transforma fatos trágicos em verdadeira comédia. Poucas pessoa que conheço possuem esse dom. Estupendo o seu texto, um tento marcado pelo coerência contra a farsa e a hipocrisia.
ResponderExcluirUm grande abraço!
Leonel de Oliveira Soares
Grande amigo Leonel.
ExcluirQuantas vezes conversamos (acompanhados por um bom vinho ou uma cerveja gelada, em Serra Negra, Campinas ou João Pessoa) sobre a sutil - mas essencial - diferença entre moralidade e moralismo (o último refúgio dos hipócritas). Quando vejo as tochas da New Holy Inquisition acesas, me dá algum nojo e vontade de tomar sal de frutas ou qualquer coisa que resolva o embrulho das tripas.
Abração.
Infelizmente estamos cheios de "historiadores-entretenedores", que, quando não fazem "história de gabinete", pulam de galho-em-galho em busca de satisfazer o bel-prazer de certas pessoas, retraindo o espírito pragmático do ofício do historiador tão presente em suas aventuras, caro professor.
ResponderExcluirCaro Matheus,
ExcluirNosso amigo Marc Bloch nos dizia que história sempre o divertiu, mas, logo em seguida, nos cobrava o compromisso com o rigor do estudo e a seriedade de propósitos. Os publicitários de plantão apenas fazem jogo de simulação. Por isso a compreensão da relatividade é o grande antídoto contra o totalitarismo relativista.
Abraço.
Ótimo texto Ângelo. Cartola disse que "o mundo é um moinho". O mundo historiográfico seria esse museu? Abraço.
ResponderExcluirOlá Giuseppe,
ResponderExcluirTem de tudo: moinho, museu e milongas mais.
Enquanto acontece a moagem de pseudo-cadeiras de barões, lendas de gnomos e coxinhas de D. João VI a coisa até que é engraçada, quando começa a moagem de prestidigitações de economistas tecnocratas tucanos e essa desgraçalheira toda, aí a coisa pega pesado...
Abraço.
Um pouco de experiência na observação da sociedade humana revela neste nesta história a tragicomédia cotidiana da nossa terra.
ResponderExcluirUma “Festa Cultural” com toda complexidade de relações dos “homens cordiais”, na diversa e “zebrada” vida brasileira.
Patrimônio Histórico e História, Público e Privado, Interesses diversos, Apropriadores, Assimiladores, Passantes Curiosos, Circo e Aparências.
Assim fazemos história onde ela não existe.
Caríssimo Professor Ângelo, mais uma vez, parabéns pela percepção aguçada.
Espero que os profissionais envolvidos com os debates de Patrimônio Histórico e suas relações com o Poder Público e a Sociedade, ao menos os mais sérios e responsáveis, aproveitem este relato para conhecer melhor o tipo de cumbuca em que metem as mãos.
Ivan Leardini
Honorável,
ResponderExcluirEnquanto nos divertimos à tripa forra, os cupins se locupletam devorando o madeirame dos velhos casarões dessa boa terra e d'alhures.
Aqui em Filipeia de Nossa Senhora das Neves, exempli gratia, alguns velhos casarões ameaçam desabar em plena ex-Rua Direita. Eles têm donos, que teriam a obrigação de mantê-los em condições de uso, mas estão entregues à ação corrosiva das forças naturais e "artificiosas" para que desabem e sejam entregues à especulação imobiliária desenfreada. O poder supostamente público assiste a tudo como imagem sacra em antro de perdição: "vê tudo mas não faz nada".
Expropriação neles!!!
Abraços.
Interessante sua observação deste acontecimento museológico de apenas um dia. Numa narrativa que deixa o autor de Ulysses risonho, mas prestes ao desespero diante a "história criada" que reside em fatos facilmente falseáveis pelo escárnio satírico de um olhar historiográfico mais crítico como o do senhor professor.
ResponderExcluirIsso tudo me remeteu que uma "história criada onde ela não existe" pode ser uma "mentira inventada" (com todos os direitos reservados a redundância) que quando repetida várias vezes pode se tornar uma verdade pública, uma tese do propagandista Goebbels com seu "totalitarismo-relativista" que para agradar as elites nostálgicas faz-se valer até os dias de hoje.
Caro Júnior, bom dia.
ResponderExcluirSó vi seu comentário hoje. Obrigado.
Acho que os tais tempos de "pós-verdade" talvez tenham a sua pré-história fundada num substrato arqueológico bem enterrado tal como o tesouro do pirata da cara de pau numa ilha deserta bem no meio da Avenida Paulista...
Abraços.
Ângelo Emílio
É possivel constatar neste relato que historiadores de países periféricos, além de profissionais qualificados, carecem de expertise artística, circense, política e pedagogica, além de reflexos rápidos, nervos de aço e presença de espírito para poder trabalhar.
ResponderExcluirO conselho do mandatário de plantão não deixa de ser proveitoso, contanto que seja realizado em proveito público.
A estratégia de entreter os endinheirados mendecaptos para viabilizar a construção de espaços sérios de reflexão histórica está valendo.
Saudações professor Ângelo.