Onophra Kasperhöuser nos brindou com brilhante entrevista sob os gorjeios das gralhas do Helesponto. |
Num ribombante feito editorial, nossa equipe foi recebida
pela brilhante intelectual em sua dacha, numa fagueira tarde primaveril,
regados pelo sinuoso paladar do chá de azeviche da Armênia e finos biscoitos de
fécula de trigo selvagem da Pomerânia e anêmonas do Mar de Azov, quando os
rouxinóis do Reno doiravam em notas de puro trinado argênteo o crepúsculo que
se avizinhava. Em meio a esse cenário outonal e com o pano de fundo de sua
valiosa Biblioteca pessoal, a Pós-Doutora Jubilada discorreu com suas
reconhecidas modéstia e coloquialidade, mesmo mantendo a tensão da mais pura
polêmica intelectual, acerca de sua mais recente obra, que formaliza e
sintetiza décadas de investigação da célebre Escola Neológica de Sebastopol,
como ela mesma frisa em sua fala. Onophra Kasperhöuser dispensa apresentações,
vamos ao deleite de sua valiosa entrevista.
Diatomáceas: Bom
dia, Pós-Doutora Onophra. Nossos leitores gostariam de saber quais são as
formulações básicas de seu mais recente trabalho Interpolações epistemológicas do neoblochismo através de um approach neo-pós-descontrutivista
em modulações quântico-relativistas na diagnose do fenomenalismo historicista[i].
OKHPDJCUTMHUBV:
Saudações aos leitores. Realmente, minha mais recente investigação parte da
averiguação de uma diagonalidade inferida por Spiegel[ii] em uma
sugestiva passagem de seus preâmbulos interconexos, na qual ele intui que as
inflexões da Lei de Barrabás[iii]
aplicadas às diagnoses possíveis – digo e friso, possíveis –, exigem uma
abordagem senoidal para tornar-se possível observar os approachs oferecidos pelos modelos intercausais. Frisei o termo
possíveis, para me afastar das conclusões indevidas de H. Von Schnauser[iv], que
considero insuficientes para uma investigação adequadamente exponencial e
pertinente ao objectus bolidus que é
referencial mono e pluricausal da fatuidade ontológica do devir. Dito isto,
pude constatar que uma análise modulada das propriedades vibracionais da
dialética neo-pós-descontrutivista, que tangenciem as conclusões mais que
axiomáticas da Escola Neológica de Sebastopol[v], permite
agenciar o conjunto dos fatores que desvendem a gnosis do fenomenalismo historicista. Isso abre, num exemplo
bastante concreto, perspectivas promissoras para entender os espectros de
fronteira entre a analítica politológica de Milk e a politologia prolegomenal
de Coffe[vi].
Digamos, sem qualquer laivo de vanidade, que essas modulações
quântico-relativistas estabelecem as bases definitivas para o entendimento dos
campos de força entrevistos pelo sintagma neoblochiano - veja-se todo o variegado e riquíssimo corpus de Apolônia Bloch. Não há mais nada de
novo a ser dito nessa área, por sinal, podemos até falar numa constatação
bastante coloquial que as teorias neo-fragmentadoras de Künz e da Linea Maginotus estão definitivamente
subsumidas ao conectivismo de Cantacuzeno[vii] e sua opus maximus da Escola Neológica de
Sebastopol. Tenho a honra e a modéstia de ter sintetizado em linhas precisas um
longo esforço de reflexão que perfaz décadas de percucientes análises pioneiramente
inauguradas por Cantacuzeno já nos albores da Era Paregórica.
Diatomáceas: Mas,
considerando as siderações especulativas de Herênius Cardozo[viii], não
poderíamos alimentar a perspectiva...?
OKHPDJCUTMHUBV
(interrompendo): Gostaria de obtemperar veementemente que essa formulação
advém da busca de uma solução para a derivativa de Celsus, que permitiria,
supostamente, digo, supostamente, estabelecer uma constante sociológica para o
ruído de fundo psicohistórico. Definitivamente, por mais tentadora que possa
ter sido essa pueril tentativa, temos, hoje, condições bastante sedimentadas
para crer que os esforços de sua reconstrução confluem de uma dogmática
estabelecida pela leitura ortodoxa de Funks, que criou um Deus Ex Machina lingüístico e estatístico. Vê-se, por essa
consideração, que as interfaces propugnadas por nossos intelectuais
maginotianos[ix]
– pessoas de inegáveis talentos, mas desprovidas de fundamentos mais
sedimentados nas bases epistemológicas da ciência de Albertus Robertus[x] – são de
ordem estritamente metafísicas, desprovidas de qualquer sustentabilidade
empírica. Posso dizer que são interessantes jogos mentais, mas carecem de
qualquer aplicabilidade na ordem prática, conforme mencionei na resposta
anterior, a partir dos casos-exemplo então aduzidos.
Diatomáceas: Efetivamente,
esse problema já foi abordado em outras obras de sua lavra, mas permanece,
digamos, um “ruído de fundo” em relação ao paradoxo de Quaker[xi], que
estabelece os limites prosódicos do ente
universalis na interação com as grandezas algébricas do empiricismo
historicista. Como podemos, então, derivar essa enfiteuse rumo ao fenomenalismo
historicista sem incorrer na célebre aporia de Hermengardus[xii]?
OKHPDJCUTMHUBV: Essa
questão equivale a andar no fio da navalha lógico. Efetivamente, a aporia de
Hermengardus coloca um desconexo ainda não linkado no plano estritamente
ideológico, mas quando ingressamos nas sendas do fenomenalismo historicista, é
possível perceber que tal controvérsia se desvanece e podemos afirmar
peremptoriamente que, tanto a aporia quanto o paradoxo, se transformam em meros
jogos intelectuais, sem fundamentos nos prolegômenos de Sebastopol.
Diatomáceas: Entretanto,
se considerarmos as observações marginais de Springer[xiii],
podemos constatar que...
OKHPDJCUTMHUBV: Deixe-me
interrompê-lo e ressalvar que impugno tal questionamento, por não reconhecer em
Springer e sua “Escola (!!??)” qualquer credencial séria para enfrentar mesmo
aspectos menores das diagonalidades de Spiegel. Simplesmente, o debate não flui
por aí, não está na ordem das coisas.
Diatomáceas:
Mas..
OKHPDJCUTMHUBV: Decididamente, nessa seara não há sustentação
qualquer para qualquer inferência séria e com o mínimo do rigor necessário. Só
para não deixar os leitores menos avisados sem alguma referência, veja como são
inadequadas tais “formulações”: o que dizem eles sobre as circunvoluções
institucionais? Nada. E sobre as interfaces do debate entre minimalistas e
maximalistas? Abaixo da crítica. Que acrescentam ao esforço de rankeamento
cinetoscópico da cosmofera científica? Absolutamente questões irrelevantes que
não mereceram publicações ou citações em qualquer periódico com o mínimo de
pontuação no sistema mars polar calota.
Veja que a Doutora H. Von Schnauser, digo e friso, Doutora, tentou dar alguma
guarida a essa linhagem desalinhada, mas, mesmo ela, com suas limitações,
percebeu que seria inadequado prosseguir em vereda tão infrutífera do petit debat.
Diatomáceas: Compreendemos
e seguimos por outra seara, solicitando suas considerações acerca dos
palpitantes eventos recentes acerca do informe reservado 357, que estabelece
normas técnicas extremamente restritivas para a livre circulação de informações
no âmbito do cosmo-science e das
plataformas integristas.
OKHPDJCUTMHUBV: Quanto
a isso, creio que há um verdadeiro oceano de equívocos. Um samba do caucasiano
doido. Vejam, já em nossa primeira Magnus Opus, sobre as interações
sociopsíquicas na politilogia do Chade[xiv], interpelamos
a comunidade científica e historiográfica a respeito da inadequação de se
observar a restrição fontes de quaisquer natureza. Qualquer representação
significaria uma restrição totalitária do nous,
que jugulava a possibilidade da veritas.
Nossa opção pioneira por incinerar os documentos existentes no Arquivo Público
daquele país, para liberar o sentido da imaginação e invenção, significou um
trabalho realizado com bastante afinco, a fim de estabelecer as bases
efetivamente silogísiticas da veritas.
Se à época houve certa surpresa ou até oposição nos meios acadêmicos – que
Cantacuzeno e eu própria reduzimos a pó e cinzas –, hoje é lugar-comum
reconhecer que a mediação das fontes significa apenas uma ilusão
pseudo-intelectual na produção fenomenalística da escrituração, sendo o imago
da veritas a imaginação
pós-descronológica[xv]. O
resto, podemos dizer com certa fleuma, é pleonasmo, puro pleonasmo.
Diatomáceas: Nos
despedimos da Pós-Doutora Jubilada honrados e embevecidos com oportunidade tão
rara de ouvir tal homilia sapiencial e ansiosos por ouvir suas despedidas Urbis et Orbis.
OKHPDJCUTMHUBV: Saravá.
Amém. Evoé. Ultra Man. Rosquinhas de Coco. Banzai.
[i]
Bayeux: Somme/Ardennes, 2017.
[ii]
Refere-se ao celebérrimo Klaus Helmut Spiegel, verdadeiro monstro sagrado e
monumento dos píncaros da glória do pensamento pós-contemporâneo.
[iii]
Legis Barrabás ou princípio de legitimação cossecante dos efeitos de ilusão
pós-contemporânea na dialógica enfitêutica do logos plenum.
[iv]
Hildebranda Von Schnauser, emérita culturóloga econometrista da Escola
Derivativa de Katmandu. Não confundir com Ildefonsa Von Schnauser, papisa da
Escola Posneoliguística Parúsica de Piripiri.
[v]
Escola Neológica de Sebastopol, liderada por Cantacuzeno e Kasperhöuser, que
define a inexistencialidade da potenciação da poiesis do ontos no imago
da veritas. Referência indispensável
nos novos estudos pós-contemporâneos.
[vi]
A analítica politológica de Milk e a politologia prolegomenal de Coffe ancoram
o debate pós-contemporâneo em sua vertente neopós-contemporânea, que se opõe à
vertente arqueopós-contemporânea, de Flink e Von Silva.
[vii]
Cantacuzenus. Mestre da Pós-Doutora Onophra, que o considera o fundador de toda
a dialogia da Escola Neológica de Sebastopol.
[viii]
Vide sua obra Siderações Especulativas no
estudo compreensivo e expressionista do Legalismo Neopóscientológico de Potter.
[ix]
Refere-se a Pós-Doutora Kasperhöuser aos adeptos da Linea Maginotus, grupo de
pensadores descartesianos, liderados no início da Era Paregórica pelo Doutor
Herênius Cardozo, paradigmático e genearcologista da Universidade
Transcendental da Basileia-Dortmund. O termo intelectuais maginotianos é
mencionado em forma de blague e não sem ironia, devido à denegação que os
pensadores de Maginotus fazem ao termo intelectual e sua adoção da terminologia
pensador para a definição de sua atividade cognoscente.
[x]
Pensador clássico pré-Paregórico, sob cujas Considerações
Tempestivas e Tempestuosas acerca da gnosis pré-Paregórica, se estruturaram
as divergências centrais do lidiismo nominalista que se segue há décadas.
[xi]
Paradoxo de Quaker: Protocontradição teorética relacionada à obra de Severinus
Quaker, que estabeleceu um acirrado debate nas últimas décadas do século
anterior, opondo cientologistas californianos aos Philosofes da Escola
neoessencialista de Oricuri. A controvérsia gerou obras de relevo no pensamento
contemporâneo, embora datadas pelo contexto da famosa “crise dos
parâmetros”.
[xii]
Aporia de Hermengardus: Principal formulação decorrente da crise dos parâmetros
ou “querela dos quantuns sociocêntricos”, que chancelou o ingresso das teorias
neoregencianas no quadro do horizonte psicohistórico. Feuderhann, numa
abordagem não despida de ironia, a designou como “o beco sem saída de todo o
pensamento ocidental”.
[xiii]
Springer Socic Admiral. Líder do Grupo Herênius
Cardozo, vinculado à Universidade Filarmônica de Lemúria e propositor do
célebre Simpósio de Culturama upper
Guaçu.
[xiv]
Refere-se a Pós-Doutora a uma de suas clássicas Magnus Opus: Translações obliteradas nas interações
sociopsíquicas na politilogia do Chade: aspectos teoréticos e metodológicos de
uma investigação a partir do imago da veritas (Luxemburgo/Vaduz:
Universitat Comblusiana, 1965).
[xv]
Como diz em letras pétreas a Pós-Doutora Onophra Kasperhöuser em seu polêmico e
instigante artigo A Fonte real: a
construção do imago da veritas a partir da negação da fonte material: dialógica
da incineração dos arquivos de múltiplas dimensionalidades e suporte: a
experiência no Chade (ImagoClio, ANO LVII, Nº 333, 1966), “o registro
documental em qualquer suporte é uma violentação da essência do ontos, por isso, o ontos só é atingível em sua essência pela imaginação do logos sobre si”.
Estrogonoficamente enriquecedora tal explanação gonorréica da cansável e inalcansável grande mestra sapiens sapiens ultra sapiens pó dos pós Professora Kasperhöuser.
ResponderExcluirPrezado Sr. Afrânio Jácome.
ExcluirA Pós-Doutora Kasperhöuser recebeu sua ditosa mensagem e envia saudações pomeranas, adiantando que, em breve, vos enviará um exemplar autografado de sua mais recente obra.
Atenciosamente.
A Redação.
Inalcançável*
ResponderExcluirentrevista realmentemente imexível...
ResponderExcluirDigníssimo Sr. Sérgius Hollandus.
ExcluirEnviamos sua missiva à Pós-Doutora Kasperhöuser, que ficou embevecida com vossas honrosas palavras e deseja retribuir a gentileza, comunicando que seguirá, brevemente, através dos Correios da República do Turcomenistão um exemplar autografado de sua recente magna opus.
Atenciosamente.
A Redação.
Diatomáceas de parabéns, loquacidade espirituosa vazando por todos os lados.
ResponderExcluirÉ o mais puro “realismo fantástico”- acadêmico, que nem mesmo o saudoso falecido Gabriel Garcia Marquez poderia imaginar.
Tudo muito publicável e rentável aos periódicos rameiros pós modernos do submundo do conhecimento.
Em louvor ao Grande Momus – vida longa à Sra. Kasperhöuser...
Honorável Signore Ivan Dan Leardini,
ResponderExcluirA Pós-Doutora Kasperhöuser tomou conhecimento de vossos doutos considerandos e nos remeteu mensagem de agradecimento, comunicando que já providenciou um exemplar autografado, que chegará à vossa residência pelo malote da Companhia das Índias Ocidentais, via Porto Ferreira.
Atenciosamente.
A Redação.