“O melhor de
todas as teorias conspiratórias é que elas sempre estão certas. Se elas se
confirmarem, é porque estavam corretas mesmo. Se não acontecerem, é porque a
conspiração foi tão bem feita, que foi possível esconder os resultados da tramóia.
É como a relação entre alguns inquisidores e o diabo: quando o capeta era
descoberto, é porque ele estava lá. Quando não se achava sinal ou indício do
demo, é que ele havia se escondido tão bem, que isso provava a sua ação por
trás dos fatos.” PSEUDO-BERIA, em um manuscrito perdido nos confins da Quirguízia,
datado dos primeiros tempos da Era Paregórica.
No dia 11 de agosto de 1999, o
mundo acabou. Numa dessas previsões que associava as propriedades da ciência da
numerologia, as observações da astrologia de Kunz e uma data aziaga do calendário
dos maniqueus de Emaús, ficou constatado que o mundo realmente havia acabado
naquela data, muito embora os devotos de Santo Ivo, padroeiro dos Advogados,
tivessem conseguido uma liminar para o treco continuar funcionando.
Naquele dia, dar uma aula de
História Contemporânea numa Faculdade em Bragança Paulista era uma aventura singular,
porque implicava debater o fato mais importante da História, que era o fim da
própria. Logo no início, nos congratulamos pela circunstância de sermos a única
geração que visualizaria o maior fato histórico desde sempre, para a inveja das
gerações precedentes, que já descansavam na paz dos séculos, e as sucessivas,
que jamais estariam ali para testemunhar o ocorrido. Entre os sinais que
indicavam os finais dos tempos, estavam o triunfo de uma cacofonia universal
transmitida pelas rádios FM, o topete de Itamar Franco e uma vitória do
Perilima no Campeonato paraibano.
A incredulidade e o espanto do
alunado iluminado pelas chamas do fim do mundo só não foram superadas pela
decisão liminar de um Juiz em Culturama (MS), que suspendeu os efeitos do
apocalipse e, logo, ninguém notou que o que se seguiu foi apenas o decurso do
prazo de um processo vencido. Até que a decisão adquira caráter terminativo,
talvez o criador perca a paciência e liquide a presepada in limine para abreviar a suprema irritação e garantir a celeridade
do devido processo, com a subseqüente redução dos custos judiciais, aplicação
de taxas e pagamento de verbas rescisórias.
Tudo, talvez, não passe de uma
conspiração muito bem urdida e apenas alguns pequenos lampejos revelem ou
permitam entrever os subterrâneos da tramitação do negócio. Os teóricos da
conspiração podem jogar seus bozós cósmicos e apostar suas formulações sobre as
motivações de certos acontecimentos aparentemente inexplicáveis.
Treze anos depois do fim do
mundo, um acontecimento aparentemente simples, vivido em tempos mais remotos e antediluvianos, traz à reminiscência uma conexão
que prova mais uma teoria conspiratória em sua plenitude: corria o ano de 1984
e o Belo de João Pessoa fazia campanha razoável na Taça de Prata, levando a
turma de Engenharia Mecânica do 84.1 a matar as aulas de Economia I, nas noites
de quarta-feira, e dirigir-se ao Almeidão, para prestigiar o espetáculo do
ludopédio.
Partidas contra o Uberlândia e
outras equipes do mesmo quilate, alimentavam os conhecimentos futebolísticos de
quem pouco estava aí para as discussões sobre lei da oferta e procura, deflação
e outras minudências do conhecimento dos filhos de Smith. Mas, uma partida
contra o Itabuna, com suas garbosas camisas azul-celestes, deu a pista para
explicar o que veio a acontecer muito tempo após.
Nos primeiros momentos da
partida, veio se sentar ao nosso lado um grupo de cinqüentões que discutia
animadamente sobre os detalhes do jogo. Alguns vestiam a camisa do Tricolor do
Contorno. Um deles envergava o padrão azul da terra do cacau e era alvo da
gozação dos demais.
Numa dada altura dos
acontecimentos, ante às provocações dos botafoguenses, o itabunense garantiu
que estava no Estádio apenas por um imperativo moral de apoiar seu time, ante à
inevitabilidade da derrota que se avizinhava e que estava escrita nos arcanos
do saber teosófico. Espanto de todos e a inevitável pergunta:
– Como você pode ter tanta
certeza disso?
– É porque o Itabuna deu
entrevista na beira da piscina.
– Como!!!??? Que diabo é isso
homem!!!???
– É, o Itabuna deu entrevista na
beira da piscina...
A essa altura, tudo o mais tinha
perdido o sentido para os circunstantes, que olhavam atônitos o diálogo sobre o
sentido das profundezas do cosmo e os segredos dos tempos. Havia uma revelação
em curso.
– Que diacho é isso de
entrevista na beira de piscina???
– É isso mesmo, todo time que dá
entrevista em beira de piscina perde o jogo...
– Como é isso homem?...
Ato contínuo, o homem começou a
narrar fatos estarrecedores sobre esse axioma, partindo de uma abordagem
ciceroniana da História Magistra Vitae.
– Pois é, em 1982 a seleção ia
muito bem na Copa até dar uma entrevista na beira da piscina. Perdeu. Em 1977,
o Flamengo tava com o campeonato na mão, mas deu uma entrevista na beira da
piscina e Zico perdeu o pênalti. Enfim, todo time que dá entrevista em beira de
piscina apanha no jogo e o Itabuna deu uma entrevista na beira da psicina,
logo, vai perder.
Acompanhamos o restante da
partida em suspense completo, não mais para torcer pelo botinha, mas para saber
se aquela lei de ferro da história teria sua validade universal comprovada. Na
batata: Belo 3 X 1 Itabuna. Estava garantido. A lei funcionava e o mundo
continuava girando em torno de seu próprio eixo.
11 de agosto de 2012. Treze anos
após o final do mundo. Na grama sagrada de Wembley todos alardeavam a próxima
conquista do ouro olímpico, o único título faltante à nossa vitoriosa galeria.
Nada poderia dar errado. Nas vésperas, muita especulação, muita análise, muito
churrasco. Sábado pela manhã e sol em todo o país. Nada melhor que iniciar um
final de semana com chopp gelado e um tira-gosto regional para comemorar a
anunciada conquista.
Aos trinta segundos do início, o efeito piscina mostrou mais uma vez sua
condição de inexorabilidade. Não se deve fazer desaforo às Leis da História. O
tempo cíclico dava suas caras depois do final dos tempos lineares. A lei que
derrubara os canarinhos, o mengo e o Itabuna, voltava a ceifar as cabeças dos
incréus. Após o final da partida, a nossa maior instituição e patrimônio, o
mal-humor nacional, estava impávido como um colosso retumbante.
Sabe-se lá quando a tal liminar vai ser caçada e a tramóia descoberta,
mas não adianta se queixar, o resultado transitará em julgado. Não existe
apelação. O mundo já deu o que tinha de dar e as profecias estavam corretas, a
bagaça deu errado. No mais, está 19 a 14 no vôlei feminino e parece que a coisa
anda, há esperança. Zé Roberto pediu tempo e os fatos se passam em tempo “real”.
Bobeira da americana, lá se vai o 20. O vizinho urra feliz. 21 e 22 já se
foram. Sandra bate palmas entusiasmada e o vigésimo terceiro já é passado. As
americanas chegaram aos quinze e dezesseis. Dezessete é perigo. Na rua o foguetório
antes reservado para o futebol começa a espocar, enquanto o vigésimo quarto
chega. É ouro!!! Catarse geral!!! Nós, os brazucas somos o máximo e nossa mãe
gentil tem as matas verdes mais verdes e o céu azul mais azul!!!
Ainda bem que elas tiveram o juízo de não dar entrevista na beira da
piscina. Tudo bem até que o mundo tenha acabado, mas vamos comemorar porque a
liminar garante que o treco continue aos trancos e barrancos e o processo deve
estar perdido num desses escaninhos ou desvãos da célere justiça nacional.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirE eu tão desinformada achando que o esporte brasileiro estava nessa situação por falta de investimento! Mas agora sei o que aconteceu: deve ter tido muito gente dando entrevista na beira da piscina. rsrsrsrsrs
ResponderExcluirPrecisamos divulgar esta teoria para garantir mais resultados positivos nos próximos jogos olímpicos.